Pô, Maskalenka, obrigada!
Eu entendo bem seu ponto. Quando eu digo final “padrão”, não é que eu ache que o jogo não queira te fazer buscar o completo, é que é o final que a maioria das pessoas vai chegar (e parar). Pouca gente vai acabar fazendo 100%, esse é o ponto. E aí o jogo mostra que você pode concluir coisas sem completá-las. É isso que acontece com a Yuna nesse final, ela conclui o problema mas não completa totalmente a questão. Para mim, é essa mensagem que é importante: você pode sim seguir em frente sem terminar.
Não vou dizer que esse final não possa ficar insatisfatório para muita gente, talvez a maioria das pessoas. “Pô, tenho mais coisa pra fazer”. Vale lembrar que mesmo com 100%, você pode escolher que o Tidus não volte e fechar a porta.
Eu concordo que o final 100% incentiva ela a não progredir. Mas eu queria pontuar que a Yuna traz o Tidus de volta fazendo o oposto do Shuyin. O Shuyin quer destruir, a Yuna quer reconstruir. Ela tem marcas que ninguém mais tem, não foi só o Tidus, foi tudo que ela conhecia: os aeons, o Auron, a religião que sempre foi a base da vida dela. Ela se arrepende, não de ter salvo o mundo, mas do preço que isso custou. É uma dor que realmente se dizer “não tinha outro jeito” não adianta… mas ao mesmo tempo, que outro jeito, se ela não sabia o que estava se passando, né? Mas, eu acho que ela entende que o Tidus sabia e se sacrificou por ela, o que doi ainda mais porque… era para ser ela e não ele, originalmente. Eu não acho que ela gostaria de voltar atrás e deixar de derrotar o Sin, por exemplo, acho só que ela queria ter feito isso de outra forma (o que é diferente do Shuyin querer matar todo mundo porque mataram a Lenne), talvez ela se arrependa até de não ter morrido no processo. O jogo te faz querer salvar o Tidus por isso, por ser injusto todo mundo estar feliz e ela, que foi quem mais fez, não ficar com “nada”. E é normal, porque é humano isso. A Yuna é uma personagem extremamente humana.
Mas concordo, olhando dessa forma, existe uma falta de progresso em relação ao final não-100% nesse sentido. Se bem que, pensando no final normal 100% (aquele que você não aperta nenhum botão), a Yuna é claramente outra pessoa e a cena só aparece depois de fazer a reflexão que ela faz no final padrão(até onde eu sei é assim pelo menos). Ela pode ter progredido menos, mas ela muda, até o Tidus percebe isso na hora. De qualquer modo, eu acho que esses finais são mais pro jogador e não para o jogo, como eu disse, pouca gente vai fazer 100% e os desenvolvedores sabem disso. Esse é o “parabains, Shinji” do jogo e não a mensagem que ele passa pra grande maioria dos jogadores.
Outra coisa, sobre os macacos em Zanarkand, quando eu joguei, não vi dessa forma. Não acho que seja um desejo egoísta da Yuna de “minhas memórias, ninguém toca”, pelo contrário, nada muito importante nesse sentido aconteceu em Zanarkand, Macalania é um lugar muito mais especial para ela. O problema, na minha visão, não é as pessoas irem lá visitar e tal, é todo o interesse comercial e de lucro que é colocado em cima de Zanarkand. A Yuna não está brava com os turistas indo lá e tendo uma relação com a cidade, está brava com quem promove isso só porque quer dinheiro.
A forma como Spira se “capitaliza” em pouco tempo, de maneira até selvagem, é um dos temas do jogo, e a Yuna não é burra de não perceber que isso vai destruir o valor cultural, histórico e religioso do lugar (vamos lembrar que a Yuna cresceu no Yevon, a religiosidade faz parte da formação dela, por mais que ela ache perigoso quando isso se mistura com política, eu acho que o status de Zanarkand como local fundamental do Yevon é muito importante para ela, porque no fundo ela é ainda uma pessoa religiosa ou ao menos que segue preceitos morais que aprendeu no Yevon, ela não é nenhuma tradicionalista-conservadora mas acho que essa criação ainda tem algum peso nela). Espantar os turistas é espantar o “capitalismo selvagem”, o problema não é o turismo, e sim a forma irresponsável como ele estava sendo feito. Claro, tem também a raiva de um lugar no qual ela sofreu feito um cão na luta contra a Yunalesca virar uma “festa da Maria Cebola” (o que ela não está de todo errada em ter). Foi assim que li a passagem quando joguei, não como parte de uma obsessão maluca pelo Tidus (que ela tem, principalmente no começo, mas não acho que é aqui que isso se mostra).
Mas enfim, eu joguei esse jogo no meio de um processo de luto, talvez por isso eu abstraia essa mensagem dele.