O que raios é a Fundação Graad?

Laura
9 min readJan 24, 2020

O QUE FAZ? DE ONDE VEM O DINHEIRO?

Se você é fã de Cavaleiros do Zodíaco deve estar, pelo bem ou pelo mal, com sua atenção voltada ao reboot em CG da Netflix: Knights of the Zodiac, também conhecido como Seiyaflix, CGZ (uma mistura de “CDZ” e “CG”) ou O CDZ que Estragou a Minha Infância (pessoalmente, meu favorito é Seiyaflix).

Se você já assistiu tudo, deve ter percebido que a série faz uma coisa que o original nunca fez: explicar como o Kido (e seu ex-marido militarista) ficou rico. [SPOILER WARNING] A série dá uma explicação, na minha opinião, interessante em fazer os dois basicamente mexendo com big data, vendendo dados sigilosos de governos e terroristas provavelmente para outros governos e terroristas na deepweb, o que significa que provavelmente toda a fortuna deles é ilegal e envolve sonegação constante de imposto. [/SPOILER WARNING].

Bem, com isso, resolvi finalmente escrever um texto que prometi ao Fábio: Um em que tento, em vão, descobrir o que é a Fundação Graad, como ela faz dinheiro e quanto dinheiro ela faz. A sugestão do Fábio era nomear o texto como “Seria Saori Kido o Tony Stark dos animes?”. É isto que vamos tentar responder.

Aqui, utilizarei todos os materiais que lembro para tentar entender como funciona a Fundação Graad. Não estou nem aí pro que é canônico ou não, pelo contrário, quero o máximo de visões da obra oficial sobre o que faz essa empresa. Mas vou começar pelo que o Kurumada nos fornece: A Fundação tradicionalmente patrocina eventos de luta e possui ao menos um hospital, onde os cavaleiros ficam internados algumas vezes.

Bom, sistema privado de saúde com certeza dá bastante dinheiro (não quero saber se isso não existe no Japão, vou dar a licença poética para a série), patrocínio de evento também deve dar seu retorno… Mas a Fundação Graad é descrita como a maior empresa da Ásia. A Saori com certeza saiu na Forbes como a menor de idade mais rica do mundo quando avô dela morreu. Rede de hospitais e eventos esportivos explicam todo esse montante? Não sei.

Com todo esse dinhiero, podia ter pago alguém para escrever“Graad” direito, não?

O mangá não tenta entrar muito nesses detalhes, mas o anime da Toei se preocupa um pouco com essa questão. No começo da série, existe uma certa vontade de mostrar para o espectador como os Kido são podres de ricos. Helicópteros militares (onde eles compraram?!), jatos supersônicos, um planetário particular high-tech até para os padrões de hoje instalado no telhado da mansão, essas são algumas coisas que tentam mostrar que essa família tem o cheat da Panini de dinheiro infinito, mas nenhuma delas nos dá uma luz do que faz a Fundação.

Mas aí vem o episódio 18. A Mara questiona na resenha dela sobre o Seiyaflix se a Toei não fazia fillers tão absurdos quanto a guinada de roteiro da série. Na minha opinião, nada até hoje supera o episódio 18, ele tem o que os fillers de CDZ nos trazem de melhor: um rapto a um petroleiro da Fundação e os Cavaleiros Fantasmas, com suas armaduras de látex, borracha ou seja lá o que for (incluindo o memorável Cavaleiro de Golfinho). Neste episódio, esses cavaleiros, renegados por Atena, raptam um petroleiro da Fundação e pedem a máscara da armadura de Sagitário como resgate. Mas a Saori é rica, muito rica, tipo, muito rica mesmo, ela não pode ter simplesmente um petroleiro. Isso é pouco. A série precisa fazer a trivela invertida do Tsubasa para te surpreender com a fortuna desta garota: o petroleiro dela, além de petróleo, tem nada menos que um REATOR NUCLEAR(!?!?!? PRA QUÊ???). Sim, pois para a Fundação Graad não basta correr o risco de poluir os oceanos com toneladas de petróleo no caso de um acidente, é preciso também estar sempre prestes a causar um desastre nuclear (esse é inclusive um dos motivos principais pelo qual eles não deixam os cavaleiros de látex explodirem o petroleiro, porque a tripulação morrer e petróleo poluir tudo aparentemente é pouco). Quem é Vander Guraad e estoque de cosmo perto de um petroleiro desnecessariamente atômico? Não posso deixar de citar que, no final, os cavaleiros fantasmas fogem com a máscara porque a Gisty/Geist, a líder deles, cria uma ilusão na qual um navio pirata ataca o petroleiro.

Bem, além de nos deixar torcendo para que a Saori mande trocar toda a frota atômica por uma de petroleiros normais (eu te amo, episódio 18), também ficamos sabendo que a Fundação tem envolvimento na indústria petrolífica, navegando pelo mar do Caribe com suas frotas nucleares. Aqui, já começamos a ter a impressão que a Fundação é uma empresa que atua em vários ramos. No episódio 19, nós aprendemos que a Fundação tem ainda um sistema próprio de satélites (!), provavelmente já tendo também seu próprio Google Maps nos anos 80.

Isto é literalmente uma bomba atômica flutuante

Um pouco mais para frente, aprendemos sobre os Cavaleiros de Aço, eles foram desenvolvidos em um centro de pesquisas próprio da Fundação. Segundo a narrativa da Toei, o desenvolvimento das armaduras de aço (que contam inclusive com skate automático) foi extremamente caro. Mas, quando a Saori herdou os negócios do Mitsumasa, ninguém nunca contou para ela sobre prováveis orçamentos exorbitantes destinados a este secreto projeto (ela também nunca percebeu). Isso indica que é esperado a empresa destinar um montante bem alto de dinheiro para fins de pesquisa. Investigação científica em si não dá dinheiro, mas patentes e desenvolvimento tecnológico sim. Não é absurdo pensar, ainda mais considerando toda a alta tecnologia que a Fundação aparenta ter, que uma outra forma de ganhar dinheiro seja por meio de patentes e também pela venda de tecnologia desenvolvida ali.

Agora, que tipo de produtos são desenvolvidos, já não temos como saber. Do jeito que a empresa é grande e a história não se importa em chutar o balde, não duvido que invistam tanto em produção de aparelhos domésticos quanto em produtos a serem vendidos para governos, sistemas de inteligência, etc. Aliás, em Ômega, vemos que a Fundação investiu mais nos cavaleiros de aço, mostrando que eles realmente tem ali seus milhões sobrando para gastar. Para quem não gostou do Guraad, eu quero lembrar que lá pro episódio 26, um dos cavaleiros de aço absorve o ataque do Babel, um cavaleiro de prata, com um tipo de ventoinha em sua armadura, deixando a situação feia pro Hyoga, que estava apanhando gostoso. Eu gosto muito desse filler, mas acho a máquina de estoque de cosmo um pouco mais coerente.

O do Guraad acho que é um pouquinho mais explicado…

Uma outra obra que aborda um pouco a Fundação é Saintia Sho. Aprendemos ali que a Fundação mantém uma escola de treinamento para Saintias disfarçada de internato de ponta para garotas excepcionais (a Saori também monta uma escolinha de cavaleiros em Ômega, mas essa fica aparentemente escondida do conhecimento da sociedade), com uma estrutura em que aparentemente algumas garotas realmente se formam normalmente (para manter a aparência das coisas) e poucas outras são escolhidas para treinar como Saintias, embora todas elas saibam sobre Cavaleiros, Atena e coisa assim. O anime ainda acrescenta que a escola particular que a Shoko frequenta também é da Fundação (algo que já dava pra desconfiar pelo mangá), possivelmente possuindo outras escolas. Assim, podemos ver que a empresa provavelmente se envolve com atividades sociais e talvez até sem fins lucrativos (ambas escolas possuem forte presença de freiras) para esconder seus negócios sujos. Sinceramente, projetos sociais parecem uma boa forma de lavar dinheiro.

Com isso, eu me questiono de uma antiga hipótese minha: os orfanatos nos quais os filhos do Kido foram jogados são instituições ligadas à Fundação, pelo simples fato de que é mais fácil esconder a sujeira dessa forma (aliás, o orfanato do Seiya é gerido por um padre aparentemente). Afinal, o Kido certamente não adotou ninguém no papel, senão ele seria cobrado pelos 100 filhos registrados no nome dele que sumiram, ia dar um problema na hora de dividir a herança e a Saori, registrada como neta, não teria direito a nada. Como ela herda tudo, é evidente que não existem registros formais da adoção da criançada. Como o Kido colocou e depois subtraiu 100 crianças assim de orfanatos? Ele é rico o suficiente para molhar mão de todo mundo, mas eu acho mais provável que sejam instituições ligadas a ele, nas quais inclusives os responsáveis sabiam que nenhuma daquelas crianças poderia ser adotada por outra pessoa.

As light novels Gigantomaquia e Golden Age deixam indicado que, a partir de certo ponto da trama, a Fundação passa a ser um braço formal e legal do Santuário, inclusive na hora de lidar com governos, estando, por vezes, acima da autoridade deles. É algo tipo… uma máfia do bem? Mas, faz até sentido, afinal, já antes de se conectar com o Santuário, a Fundação aparentemente nunca sofreu nenhuma ação por ter colocado menores de idade num torneio de luta que ainda por cima contou com Hyoga sendo envenenado pelo Ichi, Seiya fraturando o crânio e ainda matando e revivendo o Shiryu, tudo isso passando ao vivo na TV no meio da tarde. Imagina ligar a TV na Globo à tarde e assistir esse banho de sangue sem censura. Por nunca ter sido processada e presa, podemos ver que com certeza Saori e sua empresa já tinham uma boa relação com governos.

Enfim, com isso a gente consegue pensar também que a Fundação deve ter uma estrutura montada para fazer vários negócios por baixo de panos, aqui as possibilidades viram muitas. Continuamos sem muitas grandes informações, é verdade, mas acho que dá para ter um panorama geral de que a Fundação é uma empresa que atua oficialmente em vários ramos: tecnologia (nuclear inclusive!!!!), petróleo, saúde (privada?), educação (privada?), realização de grandes eventos esportivos, talvez outros setores, e, extra-oficialmente, se metendo com governos, Igrejas??, possivelmente coisas ilegais e sabe-se lá mais o que, e ainda utiliza projetos sociais para disfarçar a lambança toda.

Agora que temos um pouquinho mais de ideia do que é Fundação, vou aproveitar que estamos aqui e lançar esta pergunta: Quem é mais rico, Saori Kido ou Julian Solo? Eu, como consumidora de fanfics dessa série de longa data, vejo mais frequentemente o Julian sendo apontado como mais rico, provavelmente por ele ser apresentado como herdeiro da maior família de comércio marítimo do mundo. Mas, dado tudo que vimos, eu discordo. Oras, o Julian tem aparentemente uma empresa em um ramo só, a Saori investe em trinta bilhões de setores econômicos, possivelmente até alguns ilegais, com um bom retorno em vários deles, como que ele é mais rico??? Além disso, o Julian não tem petroleiros atômicos e nem desenvolveu seu próprio exército cavaleiros tecnológicos.

Here, they come just in time…

Um fator que deve levar à impressão de Julian ser mais rico talvez seja ele dizer que “quem domina os oceanos, domina a Terra” (já que 70% dela é água). Mas, vamos começar que isso é falado em um momento de flerte, em que ele quer claramente impressionar a Saori, então há uma grande possibilidade de estar floreando toda a situação (só eu acho besta você tentar impressionar uma trilionária falando que você também é um?). Segundo, o Julian é um narcisista megalomaníaco, portanto qualquer frase dele nesse sentido deve ter sua credibilidade questionada. Terceiro, 70% da Terra ser água não significa que comércio marítimo é o ramo mais lucrativo do planeta. Voltamos ao ponto anterior: a Saori investe em vários setores, ela não precisa ser oficialmente a #1 em nenhum deles para ter, no total, ganhos mais altos. Aliás, o fato dele enxergá-la como uma potencial parceira em seu plano de dominar comercialmente o mundo indica que os Kido têm uma fortíssima influência no comércio global, provavelmente maior que a dele.

Não temos, no entanto, nenhuma noção do quão grande é o negócio dos Solo, nem se eles também estão em outros ramos além de “comércio marítimo” (que é um termo bastante vago). Mas a Fundação é um monstro financeiro que cria um exército de aço sem falir nem nada, eu acho pouquíssimo provável que o Solo consiga bater de frente com isso. A Fundação é um negócio sinistro, com um alcance que não deve dar nem pra medir.

Bom, depois disso tudo, acho que podemos resumir a empresa assim: é uma organização meio mafiosa, digna de teoria de Illuminati, disfarçada de empresa presente em vários ramos, montada por um velho safado provavelmente afundado em esquema sujo e posteriormente comandada por sua neta adotiva que, depois de açoitar muitos órfãos na infância, passou a secretamente utilizar a grana e rede de influência para manter o mundo seguro de um raivoso panteão olímpico. Ou simplificando: Saori Kido é bem mais que o Tony Stark dos animes.

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