Dicas para escrever sobre cultura pop japonesa em 2022

Laura
6 min readJan 24, 2022

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Oi, se você não me conhece, eu sou a Laura e eu escrevo já há algum tempo sobre cultura pop japonesa. Eu comecei na parte de notícias da Crunchyroll e hoje fico no JBox.

Eu gosto de escrever sobre isso, e acho que dá pra dizer que é um hobby. Então eu resolvi por algum motivo dividir algumas coisas que penso sobre escrever sobre esse assunto. Minha experiência é voltada para sites, mas algumas coisas devem valer para outros formatos. Talvez para outros assuntos.

Eu perguntei no meu Twitter se alguém queria saber sobre isso e, bom, algumas pesssoas querem. Então vamos começar com algumas #dicas.

O Qwerty disse ser “curioso quanto a como trabalhar com texto na internet de hoje (acho que é focado em texto, né?) e que tipo de conteúdo as pessoas querem, curto prazo, longo?”

Tá, essa é difícil. Como trabalhar um texto hoje em dia? A internet é muito mais voltada para vídeo. YouTube, Twitch, TikTok, todas plataformas de vídeos com provavelmente maior oportunidade de crescimento. Não quer dizer que você não deva começar um blog ou algo do tipo. Se cresce menos, ao menos é menos custoso de produzir e engaja com um público mais voltado para a mídia textual mesmo. A TV não matou o jornal.

Na minha visão, sites vão pegar público majoritariamente por duas formas: divulgação em redes sociais e mecanismos de buscas. Então isso é uma coisa para se ter em mente na hora de escrever. E é interessante também, dentro do possível, trabalhar com estratégias diferentes para cada um desses mecanismos (tweets automáticos que repostam o título com link da matéria nas redes podem não ser tão bons se sua manchete for mais voltada para mecanismos de buscas :P).

Eu não acho que se trabalhe texto hoje de forma muito diferente que antes. Mas eu acho que pensar nas possibilidades do formato textual não permitidas por vídeos é uma coisa interessante. Você não pode scrollar um vídeo pra baixo e chegar no final com facilidade. Mas você pode passar rapidamente por um texto.

A maioria das pessoas hoje deve ler por escaneamento, pegando algumas frases de parágrafos e aí, se interessar, partir para uma leitura completa. Não dá pra fazer isso com um vídeo, decidir por trechos soltos se vale seu engajamento (e boa parte das pessoas que leem texto talvez prefiram isso, ao menos para algumas situações). Por isso é recomendável colocar alguns pedaços mais centrais dos pontos do texto em negrito, assim facilita a vida do leitor.

Além disso, formatação é importante. Não importa se você escreve bem se teu texto estiver difícil de ler. Visualmente difícil. Eu recomendo parágrafos não tão grandes e inserção de imagens, isso ajuda o leitor a dar uns “respiros” e não parecer tudo uma montanha de texto (principalmente no celular, muita gente lê pelo celular).

(eu falei em imagens mas não vai ter nesse texto pois eu não quero).

Mas confesso não entender porque os sites geralmente colocam imagens centralizadas se o formato textual permite inserí-las de várias formas. Sei lá, divirta-se.

Sobre formato, acho não ter muito a acrescentar. É o arroz com feijão mas é isso? Não sei, se tiverem outras perguntas sobre isso, posso tentar responder!

Agora, a segunda: que tipos de conteúdos as pessoas querem? Depende um pouco de quais pesssoas você quer alcançar. Mas, num geral, tudo que é quente atrai mais interesse. As coisas na internet são rápidas, as pessoas geralmente querem coisas do momento.

Mas você pode, assim como em outros formatos, trabalhar com coisas antigas. Clássicos também possuem público fiel. Tenho mais experiência com notícias e artigos. Sobre notícias, geralmente quanto mais rápido melhor, mas… nem sempre. Porque quando se fala em divulgação de rede social, o algorítimo às vezes é meio doido. O melhor dos mundos é a exclusiva.

E assim, você nunca vai conseguir escrever um texto de 600 palavras mais rápido que um tweet com print de até 280 caracteres. Então não tente “competir” com tweets — algumas redes sociais podem ser escritas, mas elas não funcionam necessariamente como um blog. Pense por que alguém clicaria na sua notícia e o que você pode oferecer de diferencial pres leitores.

Mas eu particularmente acho que o melhor conteúdo que se pode oferecer em sites é o conteúdo autoral. Notícias são mais fáceis de fazer e eles podem render bastante, mas ainda acho que a maioria das pessoas gosta de discutir… de alguma forma.

Então textos de resenha são uma boa. Talvez meio batidos, mas agregam. Mas a bem da verdade, eu acho que o formato resenha é que se tornou algo meio engessado.

Resenhas acabam sendo um espaço para “dar nota” a alguma coisa. Eu não enxergo assim (e por isso odeio resenha que de fato trabalha com sistema de notas). Pra mim, resenha é um espaço para falar da sua experiência com alguma coisa.

Não precisa falar de qualidade de animação se você não sabe nada ou se você não sente que foi tão relevante na sua experiência. Existe a animação passável, a que não está ruim mas não foi um dos pontos altos. Se não é um texto pra Sakuga Brasil, talvez não valha a pena entrar muito. Nota: gostei. Pronto.

Fale menos de coisas técnicas e mais de… você (a menos que você queira falar de coisas técnicas!). O que te atraiu? O que te causou repulsa? A série te fez pensar alguma coisa especial? Eu prefiro resenhas que vão por aqui: ao invés de tentarem dizer se algo é bom ou ruim, trazem a empolgação ou desmotivação de alguma coisa. Não me convença que sua opinião está certa: me convença que eu devo ouví-la.

Um texto escrito não deixa de ser uma narrativa (um “texto falado” também é). Uma resenha é uma narrativa sobre outra narrativa (!). Então deve ser interessante de ser lida. Não siga moldes, nem trabalhe de forma engessada: faça uma narrativa que entretenha, esse é o conselho. E atenda ao ponto que você faz no texto.

O mesmo vale para artigos informativos ou opinativos. E quanto a esses: sobre o que você quer falar? O público é muito diversificado. A maioria dos sites aborda animês, mangás e jogos, mas existe público interessado em séries e músicas japonesas. E também em outras coisas.

Tem blogs por aí que funcionam com foco justamente em públicos mais nichificados, como fãs de BL, shoujo, josei, etc. O Blyme, por exemplo, é um site grande pro nicho otaku e acho que a maioria das pessoas mais “por dentro” do meio otaku conhece ele. Mas tudo começou com um público que na época era bem menor.

Acho que o tipo de conteúdo depende mais do projeto de quem escreve, porque gente para ler vai ter. Mas na minha visão matérias autorais são o que vão dar o maior respaldo (ou não) para os sites (e autores, o povo gosta de opinão).

Mas a verdade é que quanto mais variedade puder oferecer, melhor. A questão é mais combinar o útil com o agradável e trabalhar com o que você consegue fazer. E saber que qualquer trabalho com nicho leva tempo, muito tempo.

Não sei se isso responde à pergunta? E quase não falei de cultura pop japonesa.

O Victor pediu “dicas de como (…) fugir do convencional nos assuntos”. OK, isso também é difícil porque eu não sei exatamente o que é “fugir do convencional”. Mas aqui vai uma dica para você fazer um texto diferente: tome muito cuidado com o que você fala sobre o Japão.

Existe uma infinidade de informações erradas, ou mais ou menos certas, sobre o Japão e os fenômenos no Japão. Isso acontece em parte porque as pessoas que escrevem sobre o assuntos raramente consultam fontes em japonês. E elas fazem muita diferença.

Por exemplo: convencionou-se dizer que o episódio 19 foi o propulsor do sucesso do animê de Demon Slayer. E isso é verdade… ao menos para parte do fandom internacional.

Todas as informações sobre as estratosféricas vendas do mangá de Kimetsu no Japão indicam que ele estorou após o animê sair do ar, bem depois da exibição do episódio 19. Vale lembrar que por lá o animê passou primeiro na TV, e uma pessoa que assistisse a partir do 19 não entenderia nada.

Kimetsu não pegava TOP 10 de audiência quando estava no ar na primeira exibição (e MIX, que quase não faz sucesso aqui pegava… o especial do Trenzinho Thomas também… e Bob Esponja às vezes).

Não que eu duvide que esse episódio possa ter feito barulho entre fãs por lá, mas não há indícios de que ele tirou a série da bolha. O caminho de uma série entre o público internacional não necessariamente é o mesmo dela no Japão.

Se você quer sair do óbvio, pesquise, procure, especialmente em japonês. Porque quanto mais você aprender, mais vai ver inclusive como as coisas saem por vezes bem tortas por aqui (não recomendo).

Acho que é isso? Não sei, se alguém quiser saber mais coisa, pode me dar um toque lá no Twitter!

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Laura
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Written by Laura

Escrevo uns textos aí quando tô afim. Portifólio: https://lgassert.journoportfolio.com/

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